quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Sem farofada na hora da escolha!!!

“As pessoas mais interessantes que eu conheço não tinham, aos 22 anos, nenhuma idéia do que fariam na vida. Algumas das pessoas interessantes de 40 anos que eu conheço ainda não sabem.” (trecho do texto “Filtro Solar” publicado no jornal Chicago Tribune)


O ano de 2007 aproxima-se do fim e começam então as inscrições para o vestibular. E agora? Que profissão escolher? Talvez, apenas os espartanos, predestinados à guerra, não sofressem o dilema da escolha de uma profissão. Seja no Brasil, Portugal ou Moçambique as incertezas, questionamentos e temores são os mesmos.
Apreensivos, filhos quanto à profissão que seguirão para o resto da vida e pais quanto à felicidade e êxito profissional da prole, buscam diferentes saídas para a situação incorrendo em vários erros.
“É compreensível que os pais se preocupem com o futuro profissional dos filhos, uma preocupação que segundo Suzanne Bresard (1974) aumenta à medida que estes vão crescendo e se vão aproximando os momentos das grandes decisões”, diz um estudo português sobre o envolvimento familiar no processo de decisão dos jovens. O estudo mostra que pais ansiosos podem cometer dois tipos de erros: deixar que os filhos escolham livremente ou querer escolher por eles. Nenhuma das duas situações é favorável, o ideal é que haja uma participação ativa dos pais e da escola em fornecer informações suficientes para que o jovem tome uma decisão consciente e ponderada.
Não pense que é fácil livrar-se da influência paterna, ainda que ela não seja voluntária. Com a palavra o jornalista e âncora do Programa de TV Roda Viva, Paulo Markun: “Resolvi fazer o curso de Arquitetura, porque cresci na casa de um famoso arquiteto, o Villanova Artigas, e achei que essa seria minha vocação.” Ele estava no cursinho para o vestibular quando percebeu que não tinha jeito para isso. “Fui aprovado no vestibular para a ECA e, no primeiro ano de curso, comecei a trabalhar no Diário do Comércio e Indústria, em seguida fui para O Estado de S.Paulo. A indecisão é natural, mas pode se tornar uma muleta e uma justificativa para quem pretende continuar na vida a passeio. Minha família teve a grandeza de me deixar escolher o que queria fazer.”
Denise Hamu, secretária-geral no Brasil do World Wildlife Foundation (WWF) disse também que até os 15 anos desejava seguir carreira na medicina por ser filha de médicos, no entanto, percebeu que seu talento era outro e rumou para Relações Internacionais.
Uma pesquisa feita pela psicopedagoga da Unesp de Araraquara Maria Beatriz Loureiro de Oliveira, que coordena um programa de orientação profissional para 150 estudantes, mostra que mais de 60% dos estudantes têm na figura paterna o modelo de profissional a ser seguido. Para Loureiro o tipo ideal de pais são aqueles que exercem uma “escuta inteligente”, mostrando-se interessados pelas predileções do filho, sendo atenciosos, mas sem apontar qual a carreira ideal.
O escritor Rubem Alves, que completará 74 anos no dia 15, bem conhece tal situação e não se furta a dizer que, por diversas vezes, trocou de opção na hora da escolha da carreira: “Aceitem que é muito cedo para uma decisão tão grave. Considerem que é possível que vocês, daqui a um ou dois anos, mudem de idéia. Eu mudei de idéia várias vezes, o que me fez muito bem. Se for necessário, comecem de novo. Não há pressa. Que diferença faz receber o diploma um ano antes ou um ano depois?”
A beleza do ser humano está na capacidade de mudar e melhorar a cada dia, a cada escolha e na multiplicidade de personalidades que encontramos por aí...Ainda usando as palavras do sábio Alves: “Parece que, ao nos criar, o Criador cometeu um erro (ou nos pregou uma peça!): deu-nos um DNA incompleto. E porque nosso DNA é incompleto somos condenados a pensar. Pensar para quê? Para inventar a vida! É por isso, porque nosso DNA é incompleto, que inventamos poesia, culinária, música, ciência, arquitetura, jardins, religiões, esses mundos a que se dá o nome de cultura. Pra isso existem os educadores: para cumprir o dito do Riobaldo... Uma escola é um caldeirão de bruxas que o educador vai mexendo para "desigualizar" as pessoas e fazer outros mundos nascerem...”
O grande desafio é encontrar sua vocação, palavra que vem do latim vocare que significa “chamar”; é descobrir seu chamado, deslindar o seu mundo e fazer o melhor!

Fontes:
• “O envolvimento familiar no processo de decisão dos jovens à saida do 9°ano”
Susana Faria - Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Leiria
http://nonio.eses.pt/interaccoes/artigos/B5%281%29.pdf
Bresard, S. (1974). A profissão dos nossos filhos. Publicações Europa-América.

• Alves, Rubem. Muito cedo para decidir. In "Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares", editora Ars Poetica — São Paulo, 1995, p 31.

• Alves, Rubem. "As pessoas ainda não foram terminadas...".Revista Educação.Set/2007

• Opções de carreiras.Texto retirado da revista Educação - março de 2005 http://www.colegioalaor.com.br/carreiras.htm

• www.furb.br/2005/arquivos/484613-823097/AUTO%20retrato.doc

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